
Nascido em Botucatu-Sp, aos três de setembro de 1919, filho do ferroviário Brasilio Pedroso de Moraes e de dona Laura Fernandes Cardoso. Aos vinte e três de agosto de 1934, com quinze anos incompletos começou a trabalhar na Estrada de Ferro Sorocabana, sendo que logo associou-se ao Sindicato dos Ferroviários, que veio a ser extinto no início da década de 40, em decorrência da proibição constitucional do funcionário público, organizar sindicatos representativos da categoria.
Em uma tática nitidamente divisionista, a direção da Estrada de Ferro, começo a incentivar a criação de Associações de Classe, para as diversas categorias que começaram a organizar individualmente suas entidades. Surgiam então as Associações dos Telegrafistas, dos Chefes de Trem, dos Conferentes, etc., obviamente dividindo e enfraquecendo a classe ferroviária, que já não possuía a unidade anterior, para organizar a luta por seus direitos.
No início da década de 50, criou-se a União dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana, congregando todas as categorias profissionais da ferrovia, e, Pedroso, começou a participar de suas atividades, sendo por bom tempo, até a ocorrência do Golpe Militar de 1º de Abril de 1964, delegado regional da entidade, na cidade de Bauru.
No final dos anos cinqüenta, início dos anos sessenta, liderou em Bauru e Região, inúmeras greves da Sorocabana, que reivindicavam melhores salários, plano de cargos e salários, pagamento de salário família, 13º salário, etc.. Torna-se de bom alvitre relembrar que a primeira categoria profissional 13º salário no Brasil, foi a dos ferroviários da Sorocabana, no início dos anos sessenta.
De 24 a 27 de Janeiro de 1962, realizaram greve em busca de aumento salarial, na ordem de 45%, com um salário mínimo de CR$ 6.000,00 (seis mil cruzeiros), sendo a pauta de reivindicações decidida no Encontro de Ferroviários realizado em 11 e 12 de novembro de 1961, em Botucatu.
Em final de l963, a Sorocabana realiza nova greve e fica dezoito dias com suas atividades paralisadas, sendo que em 1º de Dezembro de 1963, Pedroso concedia uma entrevista ao Diário de Bauru. onde entre coisas dizia: "Se nós, ferroviários, estamos em greve, em luta constante por melhores salários, deva-se tudo isso ao governador Ademar de Barros, que nos enganou. A greve também é um protesto contra as admissões na ferrovia, de elementos sem qualificação a altos cargos, por injunção política, o que desrespeita o Estatuto dos Ferroviários".
Em janeiro de 1964, participa do Congresso Nacional dos Ferroviários, realizado em Recife-Pe, e volta barbarizado com a miséria que presenciou e com a quantidade de crianças pedindo esmolas nas ruas. "Vi com meus próprios olhos, as cenas dos Capitães da Areia, de Jorge Amado". Costuma afirmar isto, mesmo sabendo que o romance do escritor baiano, era baseado na realidade de Salvador.
Com o golpe de 1964, em três de Abril, foi preso e conduzido a cadeia pública local onde permaneceu por cinqüenta e quatro dias. Encontrava-se nas dependências da delegacia de polícia local. providenciando o licenciamento de um veiculo de sua propriedade, quando foi avisado por um policial amigo, de que a então Força Pública, estava a sua procura para prende-lo, aconselhando Pedroso para que fugisse. Este, ao invés de empreender fuga, foi ao encontro da polícia, preocupado com a segurança da espôsa e filhos. Quando desceu da Coreinha, que fazia a ligação Estação Central-Vila Dutra, no Armazém Regulador de Café da Estrada de Ferro Sorocabana, foi recepcionado pelo então Tenente Ventrice e outros vinte e seis soldados, armados de metralhadora, em busca do perigoso líder comunista. Calmo, Pedroso comunicou ao Tenente, que era o encarregado do Armazém, que mantinha estocadas 300.000 sacas de café e que precisava comunicar aos seus superiores a sua prisão, para que fosse indicado o encarregado substituto. Com a concordância do Tenente e acompanhado por este, dirigiu-se até aos escritórios do Armazém, onde através do telégrafo, comunicou Botucatu de sua prisão. Como o telégrafo era ouvido em toda a linha e Bauru era a primeira cidade, por interferência da FAC, a realizar prisões de lideranças sindicais, inúmeros companheiros, ao tomarem conhecimento da situação em Bauru, evadiram-se.
Preso e sem a formalização de inquéritos e processos, viam os presos políticos bauruenses o tempo passar, sem que nada se resolvesse.
"Ora, iriam ser libertados!"
"Ora, iriam ser enviados para o navio prisão Raul Soares!"
À época, os investigadores de polícia, lotados em Bauru, Srs. Gerson e Carlana, diziam a sua esposa, que por CR$ 200,00 (duzentos cruzeiros) o advogado Élio Vanuzzini conseguiria sua libertação de forma imediata. Comunicado do fato, Pedroso não aceitou a proposta e saiu da cadeia, juntamente com os presos remanescentes, em 25 de Maio.
Na última semana de prisão, acometido por forte crise de asma, foi internado no Hospital Salles Gomes, pelo dr. Osires Domingues, juntamente com o professor Romeu Cajueiro de Freitas. Já que estamos buscando neste trabalho, resgatar a verdade histórica, cumpre-nos afirmar que o único médico, dentre os muitos procurados, que aceitou consultar os "perigosos comunistas presos", foi dr. Osires. Consultou-os na Cadeia Pública e imediatamente solicitou a internação de ambos no Hospital. E foram internados, com escolta da Força Pública, 24 horas por dia.
Ás vésperas da libertação, o professor Romeu recebeu a visita de parentes residentes no Estado do Paraná, que na verdade vieram para resgata-lo. Pedroso dormia, ou melhor, fingia dormir, enquanto Romeu e seus parentes traçavam o plano de fuga. Colocariam sonífero no café, para que os componentes da escolta dormissem e iriam embora para o estado do Paraná, com o avião que estava no aeroporto local. Ficariam em uma fazenda daquele estado, até a poeira assentar.
Tudo combinado, um dos visitantes, vira-se para Romeu e apontando para Pedroso, pergunta:
"- E este ai, como fazemos?"
Pedroso imediatamente abriu os olhos:
"- Eu vou também, ué!"
Risadas gerais e tudo fica combinado para a fuga na noite seguinte, que acabou não sendo necessária, pois a tarde chegava o Alvará de Soltura.
Saindo da prisão, retorna ao trabalho na Sorocabana, até que em 07 de outubro de 64, foi surpreendido com o decreto do Governador do Estado, sr. Ademar Pereira de Barros, demitindo-o da ferrovia, a bem do serviço público, com base no artigo 4º do Ato Institucional de 9 de Abril do mesmo ano. Contava a época da demissão, com 29 anos, 10 meses e vinte oito dias de serviço prestados a ferrovia. A Estrada, abriu processo administrativo, mas não o ouviu, cerceando totalmente sua defesa.
Era o início do regime autoritário e mais uma vez os fascistóides de plantão, que tomaram ilegalmente o poder, tentavam com as demissões, matar as lideranças operárias de fome.
Demitido e sem possibilidade de arrumar novo emprego, pois jamais conseguiria o "Atestado de Idoneidade Político e Social", exigido na época, por determinação dos militares, optou por vender alguns bens e construir um salão comercial, em Vila Falcão, onde montou, em nome da esposa, uma sorveteria e quitanda, a qual denominou "Mercadinho Carcará", em homenagem a ave nordestina, que diz a lenda, jamais morre de fome, passando a residir com a família em dois cômodos, no fundo do estabelecimento.
Todas noites notava a presença na esquina de seus estabelecimento, de um guarda noturno, que ficava horas e horas parado. Solicitou a um antigo amigo pessoal e freguês, para que sondasse o guarda, para ver se conseguia descobrir o que fazia ali, todas as noites. Surpresa, o guarda disse que era por ordem do Delegado de Polícia, para ver se chegava alguma condução, transportando mercadorias sem nota. Não, na realidade a polícia queria saber se continuava a se reunir com companheiros sindicalistas ou do partido.
Dura e triste ilusão, pois a grande maioria no pós golpe desapareceu. Por ali apareciam para bater um papo e tomar um sorvete: Arcôncio, Pebá e Mario Levorato. Em 1967, o então estudante Milton Dota, mudou-se para as proximidades e começou a freqüenta-la. Nesta época, além da quitanda, empacotava produtos alimentícios para a Cooperativa de Consumo dos Ferroviários da Estrada de Ferro Sorocabana, com a finalidade de completar o tempo de serviço e recolhimento devido a previdência social e conseqüentemente aposentar-se. Arcôncio, também demitido, foi contratado para trabalhar na Cooperativa em Botucatu, e ia, sempre nos finais de semana, conversar sobre os problemas da Cooperativa.
Pedroso ficava irritado, quando companheiros de outrora, passavam defronte ao estabelecimento sem parar ou ao menos cumprimentar.
Era o medo da repressão.
Só como exemplo:
Gasparini passava quase diariamente em frente ao estabelecimento, mais jamais parava ou olhava. Entretanto, em 1968, necessitando de filiados para formalizar o diretório municipal do MDB e poder disputar as eleições para a vereança, compareceu ao Carcará, acompanhado de uma criança, para filiar Pedroso e esposa no partido.
Em 1º de Maio de 1968, juntamente com companheiros ferroviários de todo o estado, compareceu a uma comemoração da data na cidade de Botucatu, onde segundo informações prestadas pelo dr. Luiz Francisco de Carvalho, secretário de justiça do estado, estava tudo acertado para o governador Laudo Natel, anunciar a reintegração dos ferroviários demitidos. A delegação de Sorocaba, numerosa, levou inclusive um padre, para celebrar missa campal de ação de graças, pela reintegração dos demitidos. Após uma longa espera, sobe ao palanque, o vereador por Botucatu, ex-presidente da União dos Ferroviários na década de cinqüenta, sr. João Baptista Domene, para anunciar aos presentes, de que o governador recebera ordens de Brasília, para não comparecer ao ato. Acabava-se o sonho da reintegração e nem sequer a missa foi realizada.
Quando da realização das eleições municipais em 1968, conjuntamente com alguns companheiros, fizeram uma campanha semi-clandestina pelo voto nulo. Detalhe, o estudante e seu freguês Milton Dota, encontrava-se preso em conseqüência do malogrado Congresso da Une, em Ibiúna. A palavra de ordem era anular o voto, escrevendo na célula eleitoral:
"LIBERDADE PARA DOTA". Algumas dezenas de votos foram considerados nulos e seus idealizadores considerados culpados pela não reeleição de Gasparini.
Mesmo afastado da militância partidária, voltou a ser preso, em 07 de Janeiro de 1969 e conduzido ao DOPS/Sp, juntamente com Pebá e Ramiro Pinto. Com eles, foi preso Gasparini, sendo que após duas ou três horas detido na Cadeia Pública de Piratininga, este foi libertado, e não teve a coragem suficiente para, em liberdade, avisar ou mandar avisar os familiares dos companheiros, de que este haviam sido transferidos para São Paulo. Desta atitude do ex-vereador e ex-prefeito, resta uma dúvida, que persiste até os dias atuais:
O que levou-o a este comportamento?
Falta de companheirismo?
Medo da repressão?
Ou teria sido um acordo com o Dr. Oswaldo Sena, visando sua libertação?
Preso em 07 de Janeiro, Pedroso e Ramiro tão somente foram ouvidos em 23 do mesmo mês, pelo dr. Wanderico de Arruda Moraes e libertado no dia seguinte.
Desta prisão, lembrava-se sempre da figura do gaúcho Benjamim, que desesperado por ver seu filho de dezesseis anos ser torturado, para que contasse suas atividades políticas, buscou o suicídio na cela. Sempre lembrava-se em suas conversas de Benjamim, o camarada gaúcho.
Esta prisão ocorreu sob a acusação de pertencer a Ala Marighela do Partido Comunista Brasileiro. Chegando em sua casa na madrugada de 25 de janeiro, foi surpreendido, logo nas primeiras horas da manhã com a visita do companheiro e ex-tesoureiro da União dos Ferroviários, Francisco Gomes, que havia optado pela luta armada e encontrava-se na clandestinidade. Sabendo que o companheiro acabara de chegar da prisão, Chico demora-se pouco, informa-se da situação e retira-se. Antes porém, comenta:
"A policia procura-me para matar, mas não morro, sem levar um comigo!"
Nunca mais foi visto e nem notícias do velho Chico chegavam. Até as vésperas de seu falecimento, Pedroso mostrava preocupação com o destino do antigo e leal companheiro. Achava que o mesmo estava preso ou morto. Quase um ano após sua morte, em 07 de Setembro de 1979, Chico Gomes retornava do exílio, no Chile e em Cuba.
Em 1976, o DOPS/Bauru, em informação secreta enviada a São Paulo, informa que o perigoso agitador comunista Antonio Pedroso, estava retornando as atividades políticas, atuando no MDB.
Irreverente, brincalhão, Pedroso arrumava motivos para humor, até nas horas negras e amargas da vida. Faleceu em nossa cidade, aos nove de setembro de 1978, com 59 anos de idade, sem ser anistiado e muito menos reintegrado a ferrovia.
Decorridos mais de vinte anos de sua morte, o governador Mario Covas, acatando parecer emitido pela Procuradoria Geral do Estado, parecer este elaborado pelos Drs. José Damião de Lima Trindade, Flávia Piovezan e Patricia Arzabe, nos autos do processo PGE 2136/98, declara a sua Anistia, ato este assinado em 11 de Janeiro de 1999 e publicado no Diario Oficial no dia seguinte, documento este necessário para que sua viúva reivindique seus direitos de pensionista de anistiado político, junto a Previdência Social e a FEPASA.
Estão sendo trinta e sete anos, longos e estafantes anos em busca de Justiça, mal o velho sindicalista morreu sem saber das acusações que lhe eram imputadas, tanto pela ferrovia como pela polícia política.
Antonio Pedroso, por indicação ex-vereador Carlos Roberto Ladeira e decreto do então prefeito Tuga Angerami, é nome de uma praça pública na Vila Industrial, em Bauru.
Um de seus adágios preferidos era:
"Herói não é aquele que vence uma batalha, mas sim aquele que atirado ao pó da derrota, consegue ter ânimos para continuar a luta".
Escrito Por: Antônio Pedroso Júnior .
PS:
Tenho certeza de que meu avô tem muito orgulho de mim ...
Ele sabe do que eu falo .
Sabe de fotografia e orquídeas ...
Sabe do bem ...Conheceu o mal .
Esse é o camarada Pedroso .
Além de ter o hobbie de fotografia,meu avô era um sarrista de plantão.
ResponderExcluirDois dias antes de falecer,o Milton Dotta,seu camarada,fez uma cirurgia do apêndice,e ficou no mesmo hospital que ele.Que por sua vez,pediu aos amigos,que colocassem um sapatinho de bebê,na porta do quarto do Dotta,como se ele tivesse acabado de dar à luz...
kkkkkk
Esse é meu avô...E eu acho que eu tenho algo dele...
=D
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